Episódio Piloto

Não sei bem a que geração pertenço. Lembro-me que quando estudava na universidade, pertencia à geração à rasca. Para os efeitos deste texto, vamos adotar esta teoria. Sou da geração à rasca, altamente qualificada, mas com dificuldades em encontrar emprego compatível com os seus estudos e objetivos de vida. 

Chamo-me Sandra Caravana, sou licenciada em Educação, com Mestrado em Educação de Adultos. Sou formadora certificada e com especialização em Igualdade de Género. 

Durante muito tempo, era assim que me descrevia nos cv’s e me apresentava nas entrevistas de emprego. 

Mas o que diz isto sobre mim?

Pouco. 

Tenho sete anos de experiência no comércio a retalho. Já vesti as melhores cores, entre coletes, polos e polares. E neste período ouvi muitas vezes (mais do que aquelas que eu soube responder) ‘não queres trabalhar na tua área?’. 

Coisa que me faz comichão atrás da orelha. Ou à frente. Ou em todo o lado, em boa verdade. 

O que aconteceu pelo caminho até agora é uma viagem de caravana, sem grandes percalços ou dramas (um mais ou menos, mas quem nunca teve um pneu furado?), que podem seguir por aqui. 

É mais que um diário. 

Será a prova escrita sobre a espetacularidade das redes sociais, mas como elas são limitadas. 

Eu também gosto do meu nome impresso na ficha técnica de um livro. Aliás, gosto muito.

Isto também diz pouco sobre o que escrevo sobre a igualdade de género e por onde escrevo. Ou o que estudo. Ou os debates que tenho.

A minha formação académica nada diz sobre a minha filha de três anos e a que vem a caminho. Nada diz como organizei a minha vida de forma estranha para quem nunca trabalhou por conta própria.

A minha clássica apresentação não diz que já fui para as urgências convencida que estava a ter um ataque cardíaco. Era um ataque sim, mas de ansiedade. 

A minha formal apresentação não diz como tenho ainda dificuldade em dar títulos e terminar textos.

Como este.